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Na ceifa O manajeiro olhou o relógio. Películas de poeira reluziam no ar. A labareda do sol derramava-se sobre as espigas amarelas e era uma brasa dos ceifeiros. Vergados em dois, latejava-lhes na cabeça o zumbido. doloroso de mil cigarras. O vento suão misturava-se-lhe, por entre a roupa, com o suor. Sobre o cabeço, o manajeiro olhava o relógio. Autómatos, os homens lançavam a foice. Cabeças tombadas, bocas abertas, barbas crescidas, pingando suor. Suor amargo na boca e nos olhos, escorrendo entre a pele e a roupa, empapando tudo. Um formigueiro a borbulhar da testa e a foice ia e vinha. O manajeiro olhava ainda o relógio. A cada pulsação rebentava uma chama nos olhos dos ceifeiros. Já não sentiam ocorpo. Só a sede escaldante a congestionar-lhes os ouvidos. Esticavam as pernas, levados na ânsia de não caírem, de não baterem de vez com a cabeça nos torrões duros. Muito devagar, o manajeiro guardou o relógio. Alguns ceifeiros levantaram um pouco o tronco. E deram com os olhos no raso da seara, entrou-lhes pela vista aquele amarelo de lava derretida. Ficaram, por momentos, cegos, de cara enrugada, dentes à mostra. Então, o manajeiro levantou o braço. Os homens caminharam para as duas azinheiras, únicas sombras que havia perto. Os que primeiro chegaram sentaram-se, encostados às árvores. Os outros procuravam ter a cabeça fora da acção do sol. A caminho do monte, o manajeiro desapareceu por detrás de uma encosta. Valmansinho foi o último ceifeiro a chegar ao pé da árvore. Veio todo o caminho dobrado, na mesma posição em que ceifava: com os braços caídos, as mãos a roçarem pelo chão. Já não tinha lugar na sombra. Ainda rodeou a árvore, como um animal tonto. Mas, desistindo, tombou de bruços. Ficou assim, muito quieto, a boca rente ao chão. Respirava a custo, de olhos fechados, o corpo mole e achatado. Os torrões amarelados bebiam-lhe sequiosamente as bagas do suor. Manuel da Fonseca, Cerromaior foroz egente o sol de Verão. (2)​

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